Ser amor hoje é cafona,
O flerte na fila do pão,
A busca do seu outro eu,
Cada dia menos, mais,
Saudade da simplicidade,
De ser, ser o suficiente,
E o abraço, antes, tão esperado,
Hoje se torna cena só de cinema,
Ama-se o dinheiro, o carro ''zero''
A bunda grande, os ''músculos''
Tudo isso era tão fútil,
Hoje é tão normal como um jornal,
Ser amor hoje é ter,
Ter tudo, mesmo não tendo nada,
Ter, ser, verbos do saber,
E eu, coitado, neste tempo nada sei,
Um poeta, sem dinheiro,
Sem carro ''zero'', sem ''músculos''
Não ser hoje é ser amor,
Pobre de mim, por ser tão cafona,
Por ser tanto amor.
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